A vida de Guido Viaro encenada por crianças no Centro Juvenil de Artes 20/12/2019 - 14:40

Alunos do curso de teatro de 8 a 11 anos contaram a história do artista plástico e educador que fundou a primeira escola de artes para crianças do Brasil

A origem do Centro Juvenil de Artes está intimamente ligada à história do artista plástico e educador Guido Viaro. O italiano, que se mudou para Curitiba nos anos 1930, fez história no Brasil ao fundar a primeira escola de artes para o público infantil em 1953. Acreditava na importância e no poder transformador das artes para as crianças e defendia que todos deveriam ter acesso ao ensino das artes. Essa trajetória de vida foi tema da peça de encerramento do ano da turma de teatro de segunda de manhã, comandada pela professora Jaira Denardi.

No dia 23 de novembro apresentaram “Viaro, arte e artes de uma vida que Curitiba ganhou”, adaptação para o teatro baseada no livro Guido Viaro, escrito por Constantino Viaro, filho do artista e um dos presentes na plateia. “Essa história de vocês é tão bonita porque é a concretização de um sonho do meu pai, que começou lá em 1935, e que está até hoje funcionando graças ao apoio de todos vocês, dos professores, e dessas crianças maravilhosas, que foram maravilhosas na sinceridade, na espontaneidade”, comentou emocionado ao final da encenação.

As 14 crianças com idade entre 8 e 11 anos iniciaram a leitura do texto e pesquisa já no primeiro semestre de 2019. A professora Jaira explica que durante as primeiras aulas os jogos teatrais, improvisações, exercícios vocais e corporais foram trabalhados para criar uma atmosfera conectada ao tema e que o processo de pesquisa teórica, vocal e corporal se desenvolveu ao longo de todo o ano com muito interesse e envolvimento dos alunos. Os ensaios para apresentação da peça iniciaram em agosto. “Eles se envolveram demais e pesquisaram muito sobre cada um dos personagens, inclusive auxiliando nas marcações da peça. Eles amaram interpretar a história do Guido porque ele (o Guido) é uma pessoa maravilhosa. A cada dia descobriam algo novo e vinham empolgados contar. Sentiram-se importantes em interpretar uma história real e principalmente, a do fundador do Centro, sentindo-se parte da história”, conta a professora Jaira. Também partiu dos alunos o desenho dos figurinos e a escolha de algumas canções usadas na peça.

Guido Pellegrino Viaro nasceu na cidade de Badia Polesine, Itália, em 1897. Artista autodidata, estudou os grandes mestres em algumas cidades da Europa, onde a Arte Moderna estava em efervescência na época. Ao escolher Curitiba como sua cidade, percebeu que não seria possível apenas se dedicar ao trabalho como artista. Resolveu então desenvolver um trabalho educativo, com o objetivo de minimizar a falta de opções culturais na cidade e desenvolver o olhar da criança para uma melhor compreensão da arte, e assim criou o Centro Juvenil de Artes Plásticas.

Constantino relata que Guido tinha um temperamento alegre e comunicativo. Era extrovertido e gostava de brincar e rir das histórias da vida, algumas delas foram interpretadas durante a peça em forma de esquetes em meio à narrativa. Isis Dias Manika, de 11 anos, que faz uma vendedora em um desses causos, comenta: “Acho legal ele ser bem engraçado, tanto que a parte do vendedor é uma história engraçada que ele contou. Uma história que ele ouviu.”

A peça é ambientada em diferentes localidades, começando na Itália, na Praça de São Marcos e na casa da família Viaro; no Brasil, na Rua XV de Novembro, na casa de Guido e Yolanda, em Guaratuba e São Paulo. Foi utilizada projeção de imagens em vários momentos do espetáculo como forma de ajudar a contar a história e como um recurso para a junção de algumas cenas. As crianças se dividiram nos papeis de Viaro, sua família lá na Itália: o pai, a mãe e a irmã; sua família no Brasil: Yolanda (esposa) e Constantino (filho); amigos artistas: João Turin, Miguel Bakun e Oswald Lopes; além de outros personagens como a esposa de Oswald Lopes e Dr. Hunfreys, médico do correio. O grupo de dança da ONG Playing For Change, coreografado por Marilia Zamilian, participou da peça na cena em que Yolanda recebe muitas flores de Viaro, trazendo um toque poético à encenação.


Grupo de dança da ONG Playing For Change fez participação na peça. Foto Divulgação

Na pele do próprio Guido Viaro, Henrique Mariotin de 10 anos confessa que queria muito ganhar o papel principal e curtiu todo o processo. “Foi muito legal, eu gostei bastante. Eu queria muito ser o Guido Viaro e eu consegui. A professora me deu uns dois livros pra eu ler, pediu pra gente fazer uns trabalhos, pra entender melhor nossos personagens”. 

Também com 10 anos, Klaus Schweizer, interpretou Constantivo Viaro e também o pai do Guido em uma cena. O jovem fez o dever de casa e chegou a entrevistar pessoalmente Constantino para aprimorar a interpretação do seu personagem. Da história do artista, relembra o trecho que mais chamou sua atenção: “achei muito interessante quando ele diz em uma das cenas, que as pessoas querem paisagens, copiadas como se fossem fotografias, mas a arte precisa de emoção. A gente pode fotografar a qualquer hora, mas a gente precisa de um pouco de emoção.”

Segundo a professora Jaira, ao estudarem a história do artista e como viviam os personagens em outros tempos, as crianças logo percebiam as diferenças nos costumes e figurinos da época em comparação com os dias de hoje. “Isso foi enriquecedor para os pequenos, que faziam comparações e comentários o tempo todo. Um trabalho sério por se tratar de uma biografia, mas ao mesmo tempo um processo divertido e envolvente, uma vez que estava sendo encenado por crianças”, finaliza Jaira.


ARTISTAS PARANAENSES - As aulas de teatro do Centro Juvenil de Artes (CJA) ganharam uma nova perspectiva a partir de 2019, quando a direção da instituição sugeriu que as tradicionais montagens de peças teatrais, apresentadas ao final de cada semestre ou ano, trabalhassem um tema específico: os artistas paranaenses. O desafio resultou em um belo trabalho de estudo e resgate da memória de grandes nomes das artes do Paraná, sejam do passado ou atuais. Alfredo Andersen, Guido Viaro, Efigênia Rolim e Hélio Leites estão entre os homenageados em 2019.

“Nossa arte é muito rica e a gente tem uma história muito bonita para mostrar para nossas crianças. Vamos valorizar nossos artistas e contribuir para que sejam estudados e trabalhados pelas crianças, tanto nas artes visuais, como nas artes cênicas. A cultura tem esse papel na formação dos cidadãos”, defende o diretor do Centro Juvenil, Luiz Gustavo Vidal Pinto.

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